Pesquisadores estudam novas espécies de insetos e como eles podem afetar as lavouras com doenças
A Secretaria de Agricultura do Espírito Santo destinou um investimento superior a R$ 1 milhão para viabilizar estudos práticos no campo, com o objetivo de auxiliar os produtores a enfrentarem novas pragas nas plantações de café, que são uma das culturas mais importantes do estado. Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) têm trabalhado intensamente para estudar essas pragas emergentes e entender os impactos que novos insetos e doenças podem trazer às lavouras. O trabalho envolve a colaboração de instituições como a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), e visa fornecer soluções de controle que possam ser aplicadas a curto prazo.
Entre as novas ameaças descobertas nas lavouras de café está o **cancro dos ramos**, um fungo que se manifesta de forma bastante agressiva, tornando-se o principal desafio fitossanitário enfrentado pela cafeicultura de conilon no Espírito Santo. O fungo causa amarelamento nas folhas e deforma a planta, que assume um formato de taça e apresenta rompimento da casca. Essa doença afeta não apenas os cafezais, mas também outras culturas importantes como banana, cacau e algodão. Como o cancro dos ramos é uma doença relativamente recente na região, os pesquisadores ainda estão no início dos estudos, tentando entender como ele afeta diferentes clones de café e como os produtores podem identificar os sintomas para tomar medidas preventivas.
Outro grande desafio é o **verme do solo**, uma praga cujos principais danos ocorrem nas raízes das plantas de café. As raízes afetadas ficam mais grossas, prejudicando o crescimento da planta e comprometendo a saúde do solo. Um ponto crítico sobre essa praga, conforme explicado pelos pesquisadores do Incaper, é que uma vez que o solo é infestado com esse verme, é praticamente impossível eliminá-lo completamente. Assim, os produtores precisam aprender a conviver com a praga e adotar estratégias para minimizar seus danos. A identificação correta do verme nas raízes é essencial para determinar se a morte da planta está diretamente associada à infestação desse nematoide.
Além dessas pragas já conhecidas, outras ainda mais recentes têm preocupado os produtores de café capixabas. Uma dessas pragas é a **broca de ramo**, um besouro que ataca a planta fazendo pequenos furos que impedem a passagem de nutrientes e água, comprometendo seriamente o desenvolvimento das lavouras. Embora os cientistas já tenham identificado o comportamento desse inseto, ainda não existe um protocolo de manejo para controlar sua disseminação, o que torna o monitoramento constante das plantações uma prática indispensável.
Outro inseto recentemente identificado pelos pesquisadores é a **cochonilha branca de cauda**, uma praga sugadora que impede o crescimento normal das plantas de café ao extrair sua seiva. Esse inseto é facilmente reconhecível devido aos dois apêndices, semelhantes a antenas, que possui em seu corpo. Quando não detectada precocemente, a infestação de cochonilhas pode se espalhar rapidamente e causar danos significativos às lavouras, como foi observado em áreas do Norte do Espírito Santo e do Sul da Bahia.
Esses novos desafios fazem parte de um esforço contínuo dos pesquisadores do Incaper para entender e combater as pragas que afetam a cafeicultura capixaba. A recomendação é que os produtores estejam sempre atentos aos sinais apresentados pelas plantas, realizando inspeções regulares para identificar possíveis pragas antes que o problema atinja grandes proporções. No caso da cochonilha branca, por exemplo, muitos produtores só perceberam o tamanho do problema quando as infestações já estavam avançadas.
Em paralelo aos estudos sobre pragas já conhecidas, o projeto "Entomofauna do Espírito Santo" tem feito importantes descobertas sobre novas espécies de insetos. Seis novas espécies de insetos foram identificadas na **Região Serrana** do Espírito Santo, nos municípios de **Venda Nova do Imigrante**, **Domingos Martins** e **Santa Maria de Jetibá**. Esses insetos, pertencentes à família Miridae, foram descritos em um artigo científico publicado na revista internacional *Zootaxa*, da Nova Zelândia. Embora esses insetos não apresentem, até o momento, potencial de causar grandes danos às plantações, os pesquisadores alertam que são necessárias mais investigações para entender seu comportamento ecológico e possíveis interações com o ambiente agrícola.
Os mirídeos desempenham funções diversas nos ecossistemas, atuando tanto como predadores de pragas, o que os torna potenciais aliados no controle biológico, quanto como fitófagos, ou seja, alimentando-se de plantas e, em alguns casos, até mesmo transmitindo vírus. Algumas espécies de mirídeos predadores podem ajudar a proteger plantações ao se alimentar de pragas como pulgões. Além disso, muitos desses insetos são sensíveis às mudanças ambientais, o que os torna bons bioindicadores, ou seja, sua presença ou ausência pode refletir a qualidade ambiental e as transformações ocorridas nos ecossistemas locais.
De acordo com os pesquisadores, essas descobertas contribuem para o aumento do conhecimento sobre a biodiversidade da Mata Atlântica e do Espírito Santo em particular. Estudos futuros sobre essas novas espécies podem fornecer insights valiosos para o desenvolvimento de estratégias agrícolas mais sustentáveis, utilizando insetos predadores como agentes de controle biológico, uma alternativa promissora aos métodos tradicionais de controle de pragas que utilizam pesticidas químicos.
Em resumo, os esforços dos pesquisadores do Espírito Santo estão voltados para garantir que os produtores tenham acesso a informações e soluções baseadas em estudos práticos, com o objetivo de enfrentar os desafios crescentes no manejo de pragas e doenças que ameaçam a agricultura local. O constante monitoramento das plantações e o avanço das pesquisas são cruciais para proteger as lavouras e garantir a sustentabilidade da produção de café no estado.
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